segunda-feira, 30 de julho de 2012

Assobio

Eu quero deitar no lar
dos meus pensamentos,
e nele encostar até os
olhos apagar.

Os dedos que agarram
as fumaças,
comandam a orquestra
que te faz rodar,
dançar, brilhar.

Teus lábios de vinho,
desenhados, traçados e
estampados em notas,
só sabem assobiar.

Eu vou deitar no lar
dos meus pensamentos.
Eu vou vestir
tua pele com
café e leite
quente.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cultivados

Uma pequena harpa soa
Nos teus sorrisos meus.
O sol penetra ao verde dos galhos floridos.
Enquanto eu olho p'ro chão,
Vejo um pinhão, bonito e marrom.
Teus braços me enrolam ladeira a baixo.
À noite, quando as pálpebras
Do mundo se encontram:
Lantejoulas amarelas num céu
Feito de pózinho azul marinho.
Teu corpo, tua mão,
Um horizonte sem fim.


sábado, 2 de junho de 2012

De uva em uva



Águas no corredor te trazem até a mim. Cheiro fechado, vitrô apertado. A margarida sorri e, sozinha, nos filma. Alguns passos inclinados a fim de xícaras achocolatadas, e bombocados. E então, olho-te de cabelo amassado para o teto.

Quando os ponteiros
se encontram,
nós caminhamos em direção aos
tomates vermelhos e às caras de azedo.

Têm panfletos, livros e fotografias.
A plateia nos admira sob
o sorriso grande e alaranjado do sol.

Visto-te de botões
velhos e caramelados.
Bebo as uvas do teu quintal
para esquentar os ossos das mãos.

Algumas jaulas nos separam do amor puro, do riso repreendido,
da inocente alegria.

À noite, uma carruagem prateada suga minhas cores
e meu cheiro de alecrim.
O quarto vazio ainda possui
as tuas bobices e
teu perfume de jardim.

Com os olhos fechados, ouço teu assobio e vejo tuas caras de saxofone. O passarinho, então, canta.

sábado, 26 de maio de 2012

Pingo de chuva

Algumas ripas de madeira no meio do nada. Quedas cristalinas refletindo o céu amarelado. Um pouco de barro nos pés descalços, nas unhas compridas. Mangas cortadas debaixo de um pé de laranja lima. , , tio, tia, mãe, pai. Viola, cerveja e refrigerante. Primos se escondendo atrás de arbustos. Guerra de mamonas. Cheirinho de milho. Curau. Pétalas esbranquiçadas jogadas ao verde. Cachorro brincando. Bolo de nada e aroma de café. Vaca, boi, bezerro, leite. Porcos sem lama. Feijão, arroz, cebola, alho. Sorvete napolitano, gargalhadas. Colchão no chão. Um, dois, três cobertores. Travesseiros e almofadas. Pingos de chuva escorrendo pelo vitrô. Pingos de chuva escorrendo dos meus olhos neste momento.


domingo, 6 de maio de 2012

Andorinhas

A noite é breve.
Meus cílios se encontram,
transformam os anseios
em sonhos.
Estes saem pela fresta da janela ao amanhecer,
pousam nas asas de uma andorinha e,
são levados para seus devidos espaços.

Pondero incompetência alheia.
Minhas cordas suplicam por seu peso.
Todos os dias, cópias
deste sonho são lançadas.

Volte.

sábado, 17 de março de 2012

Marços

A desventura da juventude
vai-se embora como Foz.
As expressões desse Iguaçu,
a cada dia, estampam-se em meu rosto de vidro
que espelha um possível além,
brilhante ou quebrado.

Nas escadas vejo minhas curtas pernas que
passam por meus olhos
enquanto um sapo vermelho
pula dentro de mim.
Endoidecem minhas mãos,
as congelam e as transpiram.

As alegrias dos sorrisos incansáveis
estão estagnadas no ontem,
que suavamente brota no agora.
E tudo o que eu tenho
é coração em forma de grilo.

Na mesa quadrada e azul clara
as areias se desprendem
da minha máquina brilhante
que, até hoje se lembra destas.
E essa felicidade penetra
em minha solidão,
trazendo xícaras de refrigério.

São líquidos e fumaças.
São as ruas vazias.
São estrelas vivas no céu,
tão grandes e brilhantes que
permanecerão sonoramente
por toda a minha vida.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Cinzamente-azul

Foi em outros luares
que você me apareceu.
Sem início algum,
seu brilho convenceu.

Meus dias castanhos
foram como um semi-outono.
Duro, cruel,
mas você era o dono.

Feito um abajur dentro
de um livro,
sua presença fez o claro e o legível.

Editastes então
as linhas de minhas mãos,
transformando traços
em um grande coração.

Dentro dos seus braços,
sem qualquer fracasso,
eu adormeço, escureço,
amorteço e enterneço.

E assim,
feito um botão reiniciar,
uma ou duas vezes em nosso luar,
- agora sim o nosso luar -
você me traz de volta pro mar.